MEDITAÇÃO DA SEMANA: : DROGAS DA VIDA HUMANA
Rev. Leontino Farias dos Santos
“Venham a mim todos vocês que estão cansados de carregar as suas pesadas cargas, e eu lhes darei descanso” (Mt 11. 28).
Falar sobre “drogas” é sempre um tema atual, principalmente se levarmos em consideração o fato de que vivemos em uma sociedade permissiva e doente, que, lamentavelmente, tem dependido de drogas para viver. Aqui nos referimos tanto às drogas necessárias para a cura de determinadas doenças quanto às drogas freqüentemente usadas por jovens e adultos como ópio, como muletas para se conseguir sobreviver neste mundo. O que se quer dizer quando falamos em “drogas”?
Inicialmente queremos nos referir às drogas que são medicamentos, produtos químicos de uso necessário para que possamos nos curar de determinadas doenças, conforme orientação médica. O ideal seria que nunca precisássemos de usar qualquer medicamento químico para nos livrar de doenças, até mesmo porque, dependendo do tipo de medicamento pode criar dependência bem como efeitos colaterais indesejáveis. Todavia, nem sempre isso é possível.
Freqüentemente também usamos a palavra “droga” para nos referir a produtos entorpecentes causadores de sensações estranhas, sem controle da consciência, que tanto podem levar as pessoas a uma sensação momentânea de bem-estar como a alucinações inconseqüentes. Algumas dessas drogas, além dos estragos que podem causar, também provocam dependência física, isto é, provocam a necessidade de aumentar as doses a fim de que se consiga o mesmo efeito inicialmente obtido. Consideramos também aqui como drogas, física e moralmente condenáveis, além das chamadas drogas pesadas como maconha, cocaína, heroína e outros, as bebidas alcoólicas, o tabaco e todos os que induzem ao fenômeno da dependência.
Mas a palavra “droga” tem também um outro significado em nossa cultura. Em determinadas situações pode dar a idéia de algo sem valor, de coisa de pouco significado ou ainda de valor efêmero, superficial e ilusório, embora às vezes aparentemente encantador. Serve de exemplo para esse tipo de droga, tudo que artificialmente nos tem servido de muletas para superarmos determinadas situações da vida ou nos fazer aparentemente bem sucedidos. O vício do cigarro é uma dessas drogas capazes de nos fazer acreditar por instantes, que temos charme, carisma e sucesso ao nosso lado para vencer a tudo e a todos, ou pelo menos, para nos dar forças para superar pequenas adversidades da vida diária.
Acrescentem-se ao uso do cigarro, outros vícios causadores de ilusões como o consumismo, a exemplo da moda; o culto à beleza pessoal, de maneira narcisista; as jogatinas sob a ilusão de se conseguir riquezas de maneira fácil; os sonhos megalomaníacos, a politicagem e até a religiosidade baseada em vícios de adoração fanática e inconseqüente. A esse tipo de religiosidade Karl Marx chamou de “opium do povo”, um entorpecente capaz de alienar as pessoas da realidade em si.
É possível viver neste mundo sem nos deixarmos dominar por algum tipo de droga?
De uma forma ou de outra, sempre nos deixamos dominar por alguma coisa que consideramos útil para nos entorpecer diante dos dramas comuns à vida humana. Existem momentos em nossas vidas que nos parecem insuportáveis, nos quais chegamos a dizer que estamos prestes a explodir! Muitas vezes procuramos fugas para nos livrar dos sofrimentos do mundo ao redor. Por isso, reconhecemos que de uma forma ou de outra vivemos em uma sociedade que está drogada, contaminada por algum tipo de entorpecente numa busca desesperada de paz!
Se por um lado muitos têm procurado algum tipo de droga para sobreviver, temos também que reconhecer que a maioria dos contaminados pelas drogas da vida, é de pessoas mais fracas, aquelas que vivem momentos de desequilíbrio emocional, sem apoio da família, da religião ou de qualquer instituição que valorize a vida. Essas pessoas, portanto, se tornaram vulneráveis e sem resistências capazes de enfrentar as crises da vida cotidiana.
O que se pode fazer para que se viva sem drogas na sociedade e se tenha felicidade?
São muitas as tentativas de respostas para esta questão. Uns acham que uma vida saudável se consegue com uma boa educação oferecida pela família ou pela escola, ou ainda com a prática de uma boa religião. Outros já não têm esperança de que isso possa acontecer.
Na verdade, precisamos de ter noção clara do potencial humano em relação a vida. Não se pode negar que o ser humano tem um grande potencial de cidadania e de amor a vida. De um modo geral todos queremos viver bem e viver muito. São poucos os que não têm este desejo. Todavia, o pecado transtornou a nossa relação conosco mesmo, com o próximo e com Deus e, desta forma, recebemos em troca conflitos, crises existenciais, desconfiança, desequilíbrio psicológico diante dos grandes desafios da vida. De alguma forma todos queremos acertar, todos queremos viver melhor, todos queremos vida com amor, com significado e com segurança. Onde encontrar isso?
Não vemos alternativas para que o ser humano viva melhor, senão a que nos é oferecida por Deus através de Jesus Cristo. Quando veio a este mundo, Jesus nos falou do amor de Deus, de sua misericórdia para conosco, reconhecendo que o ser humano estava desorientado e sem perspectivas de vida. Jesus veio a este mundo para ser a grande alternativa humana diante das ameaças de morte. E quando nos falou do amor de Deus, o fez reconhecendo que em todos os tempos, em todos os lugares e em todas as culturas o grande problema humano é a falta de amor nos corações, nas relações entre as pessoas e nas relações com o próprio Deus.
Deus, em Cristo, é a esperança para a humanidade sem amor. Somente ele poderá recuperar os valores mais nobres do espírito humano, seu potencial de cidadania e suas forças para a construção de um mundo melhor. Para tanto, é preciso que o recebamos como o nosso Salvador, como a nossa única esperança, como a expressão do verdadeiro amor. Por isso, estejamos atentos às suas palavras quando diz: “Venham a mim, todos vocês que estão cansados de carregar as suas pesadas cargas, e eu lhes darei descanso” (Mt 11.28). “... Tudo é possível ao que tem fé” (Mc 9.23); “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu único Filho, para que todo aquele que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). Sim. Deus é o amor que este mundo precisa para viver melhor. Acredite nisso!
VEJA AINDA A MEDITAÇÃO DA SEMANA ANTERIOR: SEGURANÇA, UM ANSEIO DE TODOS NÓS
“Aquele que procura segurança no Altíssimo Deus e se abriga na sombra protetora do Todo-Poderoso pode dizer ao Deus Eterno: “Tu és o meu defensor e o meu protetor. Tu és o meu Deus, e eu confio em ti” (Sl 91. 1 e 2).
Muitas pessoas, em nossos dias, têm sido vítimas de problemas emocionais causadores de fracassos e, consequentemente, de insegurança. Entre esses problemas, podemos citar desilusões, desejos reprimidos ou fantasias resultantes de devaneios que marcam a vida humana com certa profundidade, atingindo assim a auto-estima, a autoconfiança e o controle das emoções fundamentais dos indivíduos. Por que o ser humano tem sido vítima de experiências emotivas ?
Isso tem a ver com as necessidades básicas da vida humana, instintivas, que precisam ser satisfeitas na vida, mas que nem sempre são correspondidas através das práticas cotidianas. E por não atendermos satisfatoriamente a essas necessidades, somos, em muitas situações, levados ao desespero e, em alguns casos, até à morte.
Preocupados com essa situação de carências, em busca de uma vida melhor, alguns cientistas abordaram o problema chamando a atenção para alguns aspectos da vida por eles considerados como fundamentais para que as pessoas vivam melhor. Freud, criador da psicanálise, por exemplo, disse que o homem, acima de tudo, deseja ser amado; Adler, um médico e psicólogo, discípulo de Freud, discordando de seu mestre afirmou que o ser humano, mais do que ser amado, deseja, para sua realização e estabilidade pessoal, ter significado na vida; Jung, um psicólogo e psiquiatra suíço, também ligado à psicanálise, concluiu que o grande desejo do ser humano é ter segurança para viver.
Na verdade, os cientistas aqui citados têm juntos, uma certa razão em relação a essa situação de necessidades do ser humano. Isto porque, apesar dos fatores aqui apresentados serem diferentes, vistos todos como parte de um mesmo contexto, não deixam de ser, entre outros, responsáveis pela estabilidade pessoal e social, tendo em vista que o ser humano como um todo, somente consegue realizar-se quando se sente apoiado e reconhecido no meio em que vive, fundamentado na experiência do amor, que lhe dá segurança para viver melhor. Embora tudo isso pareça ser fundamental para a estabilidade humana, de um modo geral há muita carência entre as pessoas, que se sentem vazias, sozinhas e sem perspectivas para uma vida de maior segurança e conforto.
Quais os fatores que contribuiriam para que essa situação de instabilidade emocional e psicológica pudesse ser melhor equacionada e resolvida com segurança?
Existem fatores externos e internos que podem contribuir para que o ser humano se sinta feliz. É fundamental acreditar que a segurança humana sempre dependerá, entre outros aspectos, de uma vida interior rica, de uma vida espiritual saudável, consciente de seu papel no mundo; isto porque, do ponto de vista material, a segurança que se poderia ter seria sempre precária, sempre sujeita a determinados limites da vida.
No passado, era comum entre as pessoas, o medo das forças implacáveis da natureza. Tinha-se muito medo de catástrofes, secas, enchentes, calor, frio, terremotos e outros, bem como de doenças inexplicáveis, mortais. Para se sentirem seguras, as pessoas apelavam para um deus ou deuses que as ajudassem a vencer situações de dor e sofrimento. Evidentemente que estes aspectos que geravam medo e angústia, já não são tão fortes hoje quanto no passado. Há quem diga que hoje o que mais ameaça a segurança do homem é o próprio homem. O egoísmo, a paixão desenfreada pelas coisas efêmeras da vida, o apego aos bens materiais e o desprezo aos mais nobres valores espirituais seriam os principais fatores ameaçadores da segurança humana em nosso tempo.
Para vencer as ameaças à nossa segurança em nossos dias, o ser humano tem buscado apoio em coisas que nem sempre garantem estabilidade e vida com abundância neste mundo. Pois qualquer iniciativa humana que não contemple o enriquecimento da vida interior, o reforço e a supremacia dos valores do espírito, fracassará. E esse enriquecimento da vida interior somente será duradouro, se o Deus Eterno for o avalista de nossas ações. Pois, por melhor que sejam as nossas intenções, por melhor que sejam as nossos votos, sem Deus, as coisas não terão vida nem futuro.
Somente Deus é a nossa verdadeira segurança para a uma vida melhor! No Salmo 91, assim lemos: “Aquele que procura segurança no Altíssimo Deus e se abriga na sombra protetora do Todo-Poderoso pode dizer ao Deus Eterno: Tu és o meu defensor e o meu protetor. Tu és o meu Deus, e eu confio em ti. Deus livrará você dos perigos escondidos e de doenças mortais. Ele cobrirá você com as suas asas, e debaixo delas você ficará seguro. A fidelidade de Deus o protegerá e o defenderá. Você não terá medo dos perigos da noite nem de assaltos durante o dia. Não terá medo da peste que se espalha na escuridão nem dos males que matam ao meio-dia” (Sl 91.1-6).
Este Salmo nos mostra um Deus capaz de nos dar toda a segurança, toda a proteção, em qualquer tempo e lugar, quaisquer que sejam as circunstâncias da vida. Por isso é que nele está a verdadeira segurança para uma vida melhor, neste mundo e na eternidade.
Em Deus encontramos aquelas características apontadas por Freud, Adler e Jung quando se referiram a importância do homem ser amado, de ter significado e segurança para que tenha uma vida estável e plena de realizações saudáveis neste mundo. Pois na maneira como Deus se manifesta ao ser humano, na forma como ele se revela a cada um de nós, em nossas aflições e necessidades, está implícita toda a sua demonstração de amor que nos dá a verdadeira segurança e nos recebe como seus filhos, pela sua infinita graça e misericórdia, através de Jesus Cristo, o nosso Redentor!